Sinopse: Baseado num romance de Tom Perrota, "Little Children" centra-se num conjunto de pessoas cujas vidas se cruzam em parques infantis, piscinas municipais e ruas de uma pequena comunidade, de forma surpreendente e potencialmente perigosa. O autor do romance trabalhou directamente com o realizador Todd Field, percepcionando o filme como uma nova oportunidade de "re-imaginar a história e explorar novas potencialidades para as personagens". Em comum têm o facto de se recusarem a crescer e de procurarem incessantemente algo que os preencha; sem sucesso. A ideia principal de todo o filme é que a idade adulta está, regra geral, muito longe de ser um oceano de plenitude, conquistas e serenidade. O tema não é novo. American Beauty ou The Ice Storm já haviam provado que a vida da classe média nos subúrbios não é tão segura, linear e tranquila quanto o seu aspecto ordenado e calmo podia sugerir.
Nomeado em três categorias para os Óscares, o filme recolheu a unanimidade da crítica americana, que o considerou "soberbo" ("The New York Times"), "belo e provocador" ("Chicago Tribune") e "extraordinário" ("The New Yorker").
Crítica: “Little Children” faz uma análise microscópica do que é estar preso num casamento insatisfatório, numa maternidade/paternidade que parece querer excluir todas as outras facetas, da angústia de se sentir despersonalizado, da culpa que é exigir mais, do que é julgar os outros e do que é ser julgado por eles, e por nós próprios.
Sarah Pierce (Kate Winslet) vive nos subúrbios com o marido Richard (Gregg Edelman). Sarah decidiu deixar de trabalhar desde que a filha nasceu, mas passados 3 anos ela ainda não se sente igual às restantes mães do bairro, que como ela, gerem o seu dia em função dos filhos. Quando Sarah conhece Brad (Patrick Wilson), também ele um pai dedicado quase inteiramente ao seu filho, Sarah redescobre-se para além da palavra “mãe”. Brad, que estuda para o exame da Ordem de Advogados, que já chumbou 2 vezes, é sustentado pela sua sexy e dominadora mulher, Kathy (Jennifer Connelly). A relação entre ambos, como símbolo da luta contra as normas sociais, não será isenta de consequências. A relação de Sarah e Brad, que começou por ser uma provocação ao grupo de “super-mães” com quem Sarah convivia forçadamente torna-se o ponto germinador de uma relação extraconjugal insaciável, onde o sexo anda sempre de mãos dadas com a hipótese do amor.
Paralelamente, Ronald James McGovery (Jackie Earl Haley), um pedófilo recentemente saído em liberdade condicional, regressa ao seu bairro e tenta reintegrar-se numa sociedade aterrorizada e julgadora, sempre sobre o olhar atento da sua mãe, que se esforça para que este tenha uma melhor reintegração.
As duas narrativas interligam-se com suavidade através de Larry (Noah Emmerich), um polícia reformado amigo de Brad, que está decidido a erradicar Ronnie do bairro através de acções persecutórias.
“Little Children” é um filme intenso, onde todos talvez não passem de crianças, isto apesar do tom sempre adulto da película. Os pais são vistos como seres emocionais, com sonhos e aspirações, que, quando castrados como pessoas, podem dirigir involuntariamente o seu ressentimento contra os seus próprios filhos. Existe uma enorme sabedoria e humanismo na forma como se aborda este conto sobre a intolerância e sobre as expectativas que nós criamos acerca do que deverá ser a felicidade ― raramente pensando naquilo que ela já é. Todd Field filma este conto de forma perscrutante e sem descurar os pormenores dos rostos, fazendo-nos sentir como uma das personagens...
“A luta pela identidade é a batalha destas personagens, desde o início da história, levando-os a uma fome que não são capazes de saciar – a violência e o medo digladiam-se. A vergonha de como se vêem a si próprios, quando os dedos começam a apontar. Foi com esta ideia em mente que o novelista Tom Perrotta e eu começámos a trabalhar.”
- Todd Field