Sinopse: O sol está a morrer e consequentemente, a humanidade está a morrer com ele, devido ao arrefecimento que a Terra sofreu.
A última esperança da humanidade reside numa missão espacial, que envolve enviar uma equipa de 8 tripulantes numa viagem “solar” com uma bomba que irá dar nova vida à estrela. Após a tentativa falhada pela primeira missão, esta ainda tem que contar com uma pressão acrescida: se falharem, não haverá tempo para enviar uma terceira missão.
Mas a certa altura da viagem, sem contacto rádio com a Terra, a sua missão começa a desenrolar-se. Há um acidente. Um erro fatal. E um sinal de emergência de outra nave espacial que desapareceu sete anos antes.
Brevemente a equipa não só estará a lutar pelas suas vidas como pela sua sanidade.
Critíca: Danny Boyle, realizador de Trainspotting e 28 Days Later, reanima o género sci-fi com um piscar de olho ao passado. Assume as suas influências e homenageia filmes clássicos de ficção científica, sem perder a identidade ou originalidade. Lembra, por exemplo, Alien, na medida em que consegue criar um ambiente e colocar o espectador a partilhar o mesmo espaço que as personagens, apertando-o gradualmente até ser quase impossível respirar. Ao mesmo tempo apresenta-nos a dimensão potencialmente religiosa da luz, e da relação entre indivíduos provenientes de uma civilização cientificamente avançada e o espaço perigoso que se encontra para lá da razão. Outra coisa que Boyle consegue explorar neste filme são as mensagens intrínsecas como o futuro do planeta ou a existência de Deus.
Missão Solar é asfixiante. É incómodo e visivelmente impressionante. Com planos extremamente arrojados e passagens de cena em cena que deixam qualquer um com um ritmo cardíaco mais acelerado, o filme consegue não se tornar desinteressante, embora por vezes peque pelo ritmo inconstante a que nos tenta habituar. Aliás, este consegue ser um dos defeitos do filme, porque tão depressa nos faz bocejar como estar agarrados à cadeira à espera do que irá acontecer a seguir. Mas mesmo assim, não deixa de ser cativante.
Sunshine é um filme de opostos em quase todas as suas vertentes. Para infortúnio do espectador, a sua linha narrativa é uma delas. Com uma primeira metade absolutamente primorosa em todos os aspectos, Danny Boyle consegue criar uma exímia atmosfera de tensão crescente, que não consegue depois sustentar com a mudança radical de estilo causada pela introdução de um vilão patético e entorpecido na história. Além disso, Boyle também caiu no erro de transformar o filme numa discussão teológica e filosófica supérflua e inócua, só para não falar que esta mudança foi forçada, deixando alguns pontos de interrogação na personagem de Pinbacker.
De qualquer das formas, Missão Solar não deixa de ser uma boa proposta para os menos cépticos. A realização e a cinematografia de Boyle são de alto gabarito e competência, numa adaptação irrepreensível e imaculada ao género do realizador britânico. Insidiosamente, a deliberação decisiva da obra é completamente desencaixada do que tinha sido feito até então, numa reviravolta infeliz que “envia” um potencial clássico de ficção científica de volta à Terra.
Mas aquilo que mais aprecio é definitivamente que este projecto, embora não tenha sido completamente bem sucedido, tenha caído nas mãos de Danny Boyle, porque assim foi possível recriar um cenário virtualmente realista de terror psicológico, de relações em declínio pela ameaça da morte, de choque mental, longe do habitual síndroma de espectáculo e da projecção do herói americano e da típica história de amor para embalar (Armageddon lembra-nos alguma coisa?), isto é, as habituais americanices. E é isto que acaba por tornar Sunshine diferente, e agradável ao espectador, embora se possa sair do cinema com alguma desilusão.