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Mai 07



Sinopse: Este é o mais célebre de todos os casos que ficaram por resolver. O rasto de morte deixado por um louco que nunca foi capturado; o assassino que comunicava por cifras e fez uma nação tremer de medo. Reconheceu publicamente ter morto 13 vítimas, depois, mais 24. A Polícia conseguiu relacioná-lo com sete mas a verdadeira contagem de mortes poderá nunca ser conhecida.

Baseado na verdadeira história de um assassino em série que aterrorizou a área da Baía de São Francisco durante décadas, "Zodiac". A caça ao homicida tornar-se-ia uma obsessão para quatro homens, uma obsessão que os transformaria em sombras, as suas vidas construídas e destruídas por um rasto infindável de pistas: um tímido cartoonista, Robert Graysmith, um jornalista cínico e experiente, Paul Avery, um ambicioso Inspector de Homicídios, David Toschi, e o seu parceiro discreto e meticuloso, o Inspector William Armstrong.

Crítica: Zodiac é a história verdadeira de um assassino em série que aterroriza a Bay Area californiana na passagem dos anos 60 para os 70 e nunca foi apanhado. É a história de vidas que escorregaram para a paranóia. É a história de uma obsessão contada de maneira obsessiva por um realizador obsessivo, David Fincher.

Obsessão é a palavra certa para descrever serial-killers misteriosos, que ainda hoje se procuram conhecer. Obsessão/ fascínio por casos abertos, assassinos nunca desvendados. Conjugação do fascínio em Jack, the Ripper, com o conhecimento de Zodiac, o assassino que, tal como Jack, matou e nunca foi descoberto. A história que, tal como a de Jack, tanto me fascina e interessa... há o fascínio por detectives, o meu prende-se com misteriosos serial-killers.

Mas, falando do Zodiac de Fincher (realizador que trouxe os obsessivos e fantásticos Se7en e Fight Club). Este não é um qualquer filme sobre um caso misterioso por desvendar. Primeiro que tudo, é um filme de David Fincher.

Mostra o mistério, desafio, frustração… mostra o ambiente típico de Fincher, onde se encontra a necessidade de saber. Não quem, porquê, como, quando, onde… apenas saber. Robert Graysmith que o diga… Dave Toschi que o diga (“já não sei se queria que fosse ele o assassino por ele o ser mesmo ou só para que isto acabasse de vez”)… Paul Avery, Bill Armstrong, Sherwood… o desfilar de personagens de Zodiac anseia… Saber. Isso quase custa a sanidade, emprego, família a Graysmith, leva Armstrong a abandonar a investigação e Avery a entrar no mundo de álcool e drogas.

Zodiac, de David Fincher recria exaustivamente a investigação, abrangendo 3 décadas com um detalhe e minúcia apenas ao alcance de si mesmo. As sublimemente encenadas recriações dos crimes soam reais, tal é a atenção investida por Fincher no detalhe – foi sua preocupação não colocar nada no filme que não pudesse ser corroborado por provas e factos recolhidos no processo de investigação. A câmara de Fincher, clássica como em The Game e despida de artifícios, capta magnificamente toda a vibração da San Francisco da época, com a ajuda da inspirada banda sonora. Para além disso, a inclusão de inúmeros apontamentos, como a estreia de Dirty Harry a que o detective Toschi (sim, foi ele que inspirou o Bullitt de Steve Mcqueen!) ironicamente assiste, imergem o espectador no espírito de então.

A forma como o caso lentamente se apodera do detective Toschi e do seu parceiro, brilhantemente interpretados por Mark Ruffalo e Anthony Edwards, é convincente – a empatia criada para com as personagens é imediata. Algo que já não acontece na facção jornalística do filme: Robert Graysmith, o autor dos livros em que o argumento se baseia (e verdadeiro guru da investigação dos crimes reais), é introduzido como um simpático e tonto cartoonista de jornal na primeira metade do filme, não desviando quase nenhuma atenção para si quando, na segunda e superior metade, será o protagonista absoluto da trama. Também o Avery de Downey Jr., muito próximo dos excessos que o actor cometeu, começa por anunciar uma personagem forte para depois se tornar um elemento acessório na parte final.

Como está, é um excelente e virtuosíssimo relato policial, com uma tremenda segunda parte de investigação obsessiva – é aí que o filme se solta e carrega no suspense, originando uma das melhores cenas que Fincher já filmou, a visita de Graysmith ao projeccionista, digna do melhor Hitchcock. É um dos grandes filmes policiais dos últimos anos, sem dúvida, e faz com Se7en um memorável díptico que atinge patamares inalcançados por outros objectos da mesma linhagem.

publicado por FV às 18:09

Sinopse: Verão de 1870. Ramalho Ortigão é raptado. Decide então desafiar o seu amigo Eça de Queirós para escreverem um policial para o Diário de Noticias. O enredo deste folhetim passa-se entre Sintra e Malta e tem como figuras principais vários membros da aristocracia da sociedade lisboeta da época: Luísa, que é casada com o Conde de V. a quem é infiel por força da sua paixão pelo capitão inglês Rytmel; Cármen, uma mulher cubana, de sangue quente que não olha a meios para alcançar os seus fins e Vasco, que é primo da condessa Luísa e por quem está apaixonado. A trama avança, e com ela crescem ameaças, duelos, sexo e intrigas. Lisboa está em alvoroço. Ramalho e Eça são ameaçados. Sabem demais. Os crimes sucedem-se a passos largos, numa história onde o amor é mais forte do que a tradição, a intriga escapa às evidências e tudo corre freneticamente como num jogo. Será que houve mesmo crime? Será que Ramalho foi mesmo raptado?
Estas são as perguntas que sustentam o conflito entre os nossos dois autores. As personagens criadas no folhetim, afinal podem ser reais? Toda a gente se toma pelo Conde atraiçoado. À medida que o folhetim avança, cresce o envolvimento dos escritores que sofrem na pele as perseguições daqueles que sentem a história como real.
E o que pensa a sociedade, o director do Jornal, o grupo de intelectuais com que os autores convivem e as próprias personagens da ficção, ou será que são da realidade?
 
Crítica: Este filme, realizado por Jorge Paixão da Costa traz uma lufada de ar fresco às salas de cinema portuguesas, retratando uma época carismática onde os valores da sociedade se reflectiam numa mentalidade materialista e de aparências. Numa crítica constante aos costumes e mentalidades da época, esta adaptação mantém-se sempre entre o romance, a promiscuidade e o policial. Daqui sobressai então a importância desta dupla de escritores que representam uma espécie de mentes lúcidas da época, em especial Eça, que teima em insistir no lado crítico do folhetim enquanto que Ramalho se sente tentado a escrever o enredo de uma forma mais superficial e politicamente correcta. Esta dupla é brilhantemente interpretada por dois excelentes actores: Ivo Canelas (Eça) e António Pedro Cerdeira (Ramalho) que tem neste filme um desempenho excelente e que em muito contribuem para a boa “condução” do mesmo, com sucessivos apontamentos de humor, discretos mas bem conseguidos. Em paralelo, o romance do impecável Capitão inglês William Rytmel com a condessa Luísa e a intervenção de Cármen, é o primeiro dos muitos pretextos para uma caricatura feroz sobre as relações luso britânicas, numa época que antecedeu o Mapa Cor-de-Rosa e o Ultimato, em que se revelavam já muitas das tensões que se viriam, em breve, a agravar. Como diz, então, Eduardo Coelho – o director do Diário de Notícias – todos têm os olhos sobre o folhetim e os seus autores; "o Governo, as Cortes, a Igreja, o Rei...". Todos aguardam a saída do próximo capítulo, capaz de ter influência na estabilidade social. Nicolau Breyner, como director do DN, tem também um excelente papel, mesmo tendo em conta a relativa brevidade da sua intervenção.
O realizador mostrou também alguma preocupação em humanizar estes personagens que, progressivamente conseguem fazer passar para o espectador os seus sentimentos, angustias e, principalmente os sentimentos de raiva contra uma sociedade tão falsa e fechada.
São os pormenores que enaltecem esta longa-metragem, já para não falar dos cenários, da caracterização e do guarda-roupa, fazendo-nos mergulhar por completo no retrato do nosso país no século XIX, embrenhado num mistério que teima em não se resolver e que nos deixa cheios de curiosidade até ao final do filme.
O Mistério da Estrada de Sintra é, portanto, mais um filme a contribuir para o equilíbrio da produção do cinema português, que nos últimos anos tem mantido uma certa regularidade, uma maior variedade de géneros e, sobretudo, uma qualidade média que vai crescendo progressivamente.
publicado por AS às 17:51

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