Sinopse: Este é o mais célebre de todos os casos que ficaram por resolver. O rasto de morte deixado por um louco que nunca foi capturado; o assassino que comunicava por cifras e fez uma nação tremer de medo. Reconheceu publicamente ter morto 13 vítimas, depois, mais 24. A Polícia conseguiu relacioná-lo com sete mas a verdadeira contagem de mortes poderá nunca ser conhecida.
Baseado na verdadeira história de um assassino em série que aterrorizou a área da Baía de São Francisco durante décadas, "Zodiac". A caça ao homicida tornar-se-ia uma obsessão para quatro homens, uma obsessão que os transformaria em sombras, as suas vidas construídas e destruídas por um rasto infindável de pistas: um tímido cartoonista, Robert Graysmith, um jornalista cínico e experiente, Paul Avery, um ambicioso Inspector de Homicídios, David Toschi, e o seu parceiro discreto e meticuloso, o Inspector William Armstrong.
Crítica: Zodiac é a história verdadeira de um assassino em série que aterroriza a Bay Area californiana na passagem dos anos 60 para os 70 e nunca foi apanhado. É a história de vidas que escorregaram para a paranóia. É a história de uma obsessão contada de maneira obsessiva por um realizador obsessivo, David Fincher.
Obsessão é a palavra certa para descrever serial-killers misteriosos, que ainda hoje se procuram conhecer. Obsessão/ fascínio por casos abertos, assassinos nunca desvendados. Conjugação do fascínio em Jack, the Ripper, com o conhecimento de Zodiac, o assassino que, tal como Jack, matou e nunca foi descoberto. A história que, tal como a de Jack, tanto me fascina e interessa... há o fascínio por detectives, o meu prende-se com misteriosos serial-killers.
Mas, falando do Zodiac de Fincher (realizador que trouxe os obsessivos e fantásticos Se7en e Fight Club). Este não é um qualquer filme sobre um caso misterioso por desvendar. Primeiro que tudo, é um filme de David Fincher.
Mostra o mistério, desafio, frustração… mostra o ambiente típico de Fincher, onde se encontra a necessidade de saber. Não quem, porquê, como, quando, onde… apenas saber. Robert Graysmith que o diga… Dave Toschi que o diga (“já não sei se queria que fosse ele o assassino por ele o ser mesmo ou só para que isto acabasse de vez”)… Paul Avery, Bill Armstrong, Sherwood… o desfilar de personagens de Zodiac anseia… Saber. Isso quase custa a sanidade, emprego, família a Graysmith, leva Armstrong a abandonar a investigação e Avery a entrar no mundo de álcool e drogas.
Zodiac, de David Fincher recria exaustivamente a investigação, abrangendo 3 décadas com um detalhe e minúcia apenas ao alcance de si mesmo. As sublimemente encenadas recriações dos crimes soam reais, tal é a atenção investida por Fincher no detalhe – foi sua preocupação não colocar nada no filme que não pudesse ser corroborado por provas e factos recolhidos no processo de investigação. A câmara de Fincher, clássica como em The Game e despida de artifícios, capta magnificamente toda a vibração da San Francisco da época, com a ajuda da inspirada banda sonora. Para além disso, a inclusão de inúmeros apontamentos, como a estreia de Dirty Harry a que o detective Toschi (sim, foi ele que inspirou o Bullitt de Steve Mcqueen!) ironicamente assiste, imergem o espectador no espírito de então.
A forma como o caso lentamente se apodera do detective Toschi e do seu parceiro, brilhantemente interpretados por Mark Ruffalo e Anthony Edwards, é convincente – a empatia criada para com as personagens é imediata. Algo que já não acontece na facção jornalística do filme: Robert Graysmith, o autor dos livros em que o argumento se baseia (e verdadeiro guru da investigação dos crimes reais), é introduzido como um simpático e tonto cartoonista de jornal na primeira metade do filme, não desviando quase nenhuma atenção para si quando, na segunda e superior metade, será o protagonista absoluto da trama. Também o Avery de Downey Jr., muito próximo dos excessos que o actor cometeu, começa por anunciar uma personagem forte para depois se tornar um elemento acessório na parte final.
Como está, é um excelente e virtuosíssimo relato policial, com uma tremenda segunda parte de investigação obsessiva – é aí que o filme se solta e carrega no suspense, originando uma das melhores cenas que Fincher já filmou, a visita de Graysmith ao projeccionista, digna do melhor Hitchcock. É um dos grandes filmes policiais dos últimos anos, sem dúvida, e faz com Se7en um memorável díptico que atinge patamares inalcançados por outros objectos da mesma linhagem.