Quando inicialmente nos propomos a ler algo como Inforscravos sabemos de antemão que estamos a ler um pouco da história do sentimento geral enraizado nos primórdios da Microsoft.
Se, ao pegarmos neste livro, estivermos fora da esfera informática, com certeza teremos alguma dificuldade em compreender ou mesmo apreciar algumas piadas…Pode-se assim dizer que Douglas Coupland escreveu um livro muito real, direccionado maioritariamente àqueles que habitam este mundo complexo da Informática. Com isto não pretendo afirmar que um leigo na área da informática não poderá apreciar este livro, antes pelo contrário. Apenas é necessário tomar em atenção e consideração que um informático entenderá melhor (e quiçá rever-se-á) a história e as piadas.
No livro, Coupland aborda os dilemas e problemas comuns a qualquer um de nós, vistos do ponto de vista de um grupo de “servos da Microsoft” (título original: Microserfs), que habitam num campus contíguo à entidade Microsoft, por forma a conseguirem cultivar maior tempo e ritmo de trabalho.
Para quem está habituado ao mundo a informática, este livro é um fiel retrato da vida de muito trabalho (quase sempre sem horários), do pouco (e mal) que se come e que se dorme…
Dan, Karla, Bug e os restantes companheiros aqui retratados levam uma vida de servos muito semelhante à praticada pelos senhores nos tempos medievais, até ao dia em que decidem mudar, voltar a viver…libertar-se das amarras da Microsoft que os tinha prendido e puxado para o fundo das suas existências.
Com certeza que, muitos de nós nos identificaremos facilmente e às empresas em que trabalhamos, neste contexto social… infelizmente. Assim como, aqueles que hoje em dia passam a maior parte do seu tempo a ver outros viverem (em filmes, livros, jogos, etc…) do que propriamente a viver a vida.
A forma de diário escolhida por Coupland permite-nos ainda mais integrar-nos neste mundo e entender o que sentem e pensam o grupo de personagens, não só quanto à informática, como quanto às relações humanas. É fácil p’ra qualquer um de nós revermo-nos na amargura da vida, das decisões, dos problemas… do querer viver.
Essencialmente este é também um livro intemporal, pois permite que, ainda hoje, mais de dez anos depois da sua edição, a vida deste grupo de amigos e colegas, pudesse ser a nossa… ao passo que cada vez caminhamos mais para uma vida de passagem … e pouco vivida. Aproveitemos a vida, não nos deixemos enredar nas teias de empresas como a Microsoft ou a Apple o eram nos inícios dos anos ’90…