Sinopse: Dois irmãos lutam para ter sucesso na vida e para resolver os seus problemas. Um é jogador crónico com dividas até “ao pescoço” e o outro é um jovem apaixonado por uma bela actriz que conheceu recentemente, que trabalha para o restaurante do pai e ambiciona ser um homem de negócios. Assim, viram-se para o seu opulento tio Howard, um poderoso e influente homem de negócios, no qual a família sempre recaiu, para resolver tanto o problema das dívidas de jogo de Terry (Collin Farrel) como a sede de riqueza de Ian (Ewan McGregor). Howard (Tom Wilkinson), em troca dessa ajuda, propõe aos sobrinhos um negócio inesperado que levará ambos até às últimas consequências.
Crítica: Para quem tem acompanhado o trabalho de Woody Allen, sabe que Allen é um exímio narrador de grandes dramas humanos, tendo Match Point funcionado muito bem neste aspecto, e este Cassandra’s Dream veio reforçar. Portanto, sem esconder as suas pretensões, o novo trabalho de Allen está enraizado nas tragédias gregas, com alguns laivos de film noir, e assume esta vertente até ao seu magnifico final.
Partindo da premissa da ambição e dos sonhos e o estar disposto a tudo para alcançar os mesmos, chegando ao ponto da confrontação com questões de moral e de lealdade familiar, que surgem cedo e rapidamente tomam conta do filme.
Muito se diz quando se fala de Woody Allen, e no caso deste filme, o seu grande mérito e trunfo é o argumento fortíssimo. Primeiro, pela forma como estabelece os motivos e personalidades das personagens, bem como pelos respectivos dilemas morais. Se o filme se move devagar, é porque cada cena é meticulosamente construída para nos informar um pouco mais sobre elas, e consequentemente nos tornar cúmplices dos seus actos. Mas mais do que isso, a imprevisibilidade e a dúvida parecem surgir a cada esquina, e nós nunca sabemos exactamente em quem confiar, ou como as coisas vão correr, daí resultando momentos de um suspense quase insuportável, que a música de Phillip Glass ajuda a alimentar.
É neste grau de identificação que o espectador tem com as personagens e a forma como foi construído este brilhante enredo que tornam Cassandra’s Dream num filme tão bom, ou até mesmo melhor do que Match Point, Crimes and Misdemeanors e toda a obra mais negra de Allen. Outro aspecto a realçar é o desempenho de Collin Farrel, que nunca se viu a interpretar um papel dramático tão bom como aqui, e McGregor está de regresso às grandes personagens. Depois o papel interpretado por Tom Wilkinson torna-se verdadeiramente ameaçador nas poucas cenas em que participa ao ponto de a sua personagem pairar sobre todo o filme.
Se Scoop foi uma desilusão para os seguidores de Woody Allen, Cassandra’s Dream é o regresso em grande de um dos maiores cineastas do mundo!