Sinopse: Três irmãos norte-americanos, que não se falavam há um ano, lançam-se numa viagem de comboio através da Índia no intuito de se encontrarem a eles próprios e reatarem os laços familiares - tornarem-se novamente irmãos como eram antes. Porém, a sua "busca espiritual" desvia-se rapidamente do caminho proposto (por causa de acontecimentos envolvendo analgésicos ilegais, xarope indiano para a tosse e spray pimenta) e eles acabam por se ver abandonados no meio do deserto com onze malas de viagem, uma impressora e uma máquina de barbear. Subitamente inicia-se uma nova viagem não planeada.
Crítica: Desde a sua primeira curta-metragem que Wes Anderson se assumiu como um autor de filmes, com o seu universo muito particular e peculiar. Utiliza maioritariamente personagens perdidas, famílias disfuncionais, com a incapacidade de exteriorizar emoções… sempre num ambiente familiar filmado com um notável sentido de movimento e com uma cor absolutamente extraordinária.
“The Darjeeling Limited” inclui-se claramente nesse lote de filmes de Wes Anderson, sendo apresentado entre nós com um brinde (que ajuda a perceber alguns pontos da história) que se chama “Hotel Chevalier”, uma curta-metragem filmada como sendo uma primeira parte deste filme e que conta com o cameo fantástico de Natalie Portman.
Quer com esta curta ou com a longa em si, comprova-se o enorme talento de Anderson p’ra filmar em espaços fechados. Se na curta não sai do quarto de hotel, na longa explora de forma fenomenal a carruagem e o comboio, com excelentes acessórios como são os papéis de parede e pequenos objectos que vão surgindo e sendo importantes durante o filme.
Mais uma vez, este filme aborda uma família, neste caso três irmãos, com uma incapacidade de se relacionarem. Em viagem pela Índia, os três tentam interagir, após a morte do pai, há um ano (última vez em que se tinham visto e falado). A sua forçada convivência neste comboio - onde aparecem caras conhecidas e habituées de Anderson, como Bill Murray – leva a situações caricatas e com um delicioso humor conjugado com alguma tristeza… No fundo, Anderson fez um filme sobre uma viagem… sendo a mais importante a espiritual, a de aprendizagem e crescimento destes três irmãos que mal se conheciam, e que não confiavam uns nos outros.
Tal como já referido, Anderson tem nos seus filmes um conjunto de actores com que gosta de trabalhar e que entram e adocicam este filme fenomenalmente: Bill Murray, nos seus 5 minutos em cena, faz o que melhor sabe, Angélica Huston está fenomenal… e o trio de actores que não podia ter sido melhor escolhido: Owen Wilson (outro habituée), Jason Schwartzman (que co-escreveu o argumento com Anderson e o primo Roman Coppola, sendo também ele um habituée) e Adrien Brody (o fantástico Pianista de Polanski). Este grupo é verdadeiramente fantástico, junto e separado, portando-se de facto como três verdadeiros irmãos, sendo perfeitos nas imperfeições das personagens.
Outro grande trunfo dos filmes d Anderson e que aqui mais uma vez é apresentado é a escolha da banda sonora… onde funde temas de filmes indianos com sons dos The Kinks e a viciante “Les Champs-Elysées”, que nos dá vontade de embarcar naquele comboio com aquele trio (ou quarteto, se contarmos com Anderson como o quarto irmão escondido).
Em conclusão, “The Darjeeling Limited” é um filme de reencontros, feito por amigos, companheiros… no fundo é quase uma imagem daquilo que Anderson, Wilson e Schwartzman são, tendo ainda o bónus de apresentar Brody, que prova que de facto é dos melhores da geração…