Fico sempre apreensivo e preocupado com o que vai acontecer quando se fala de remakes de filmes que tiveram sucesso - quer seja pelo próprio filme, ou porque um actor/actriz ficou mais conhecido(a), ou porque a obra da qual é adaptado teve um boom de sucesso (como foi o caso) -, mas neste caso com o facto de a história ser adaptada por um dos meus realizadores preferidos, tendo Daniel Craig, Christopher Plummer, Stellan Skarsgard, entre outros no elenco, e com todas as imagens que foram apresentadas de Rooney Mara como Lisbeth, fiquei bastante curioso e esperei ansiosamente a estreia.-
E, de certa forma, não poderia ter corrido melhor. Começando com o excelente genérico - dos melhores do ano, sem dúvida - com uma grande música da autoria de Trent Reznor e Karen O (adaptando um original de Led Zeppellin), passando por uma excelente interpretação de Rooney Mara - ainda que diferente da sua antecessora Noomi Rapace - e tendo também Daniel Craig em muito boa forma, esta é uma adaptação, ou remake se preferirem, que vale a pena ver.
A forma como David Fincher pegou na história, não a afastando muito da versão original, mas no entanto incorporando alguns pontos do livro que, para mim tinham falhado anteriormente, trouxeram uma adaptação bastante fiel à história criada por Stieg Larsson. A maior diferença entre o livro e este filme será mesmo o final, que David Fincher refez, tendo perdido um pouco da dinâmica do livro, mas não estando inteiramente disparatado. Ao contrário da versão original, Fincher tratou alguns personagens de forma diferente - como Lisbeth, dando-lhe um ar mais frágil que também é apresentado no livro - e incorporou (ou aumentou a presença) de outros que são importantes na história e, especialmente no desenrolar da trilogia.
Quanto aos actores, Daniel Craig está bastante bem, sendo que também não transcende por muito Michael Nyqvist, na forma como ambos fisicamente acabam por ser parecidos, permitindo assim também haver uma boa identificação, de acordo com o que foi criado e descrito no livro de Stieg Larsson. O Blomkvist de Craig apresenta também algumas melhorias na forma como Fincher explora o seu relacionamento - importante - com algumas das restantes personagens.
A integração - e relativa importância - de Pernilla Blomkvist também melhora a narrativa, bem como a aparição de Holger Palmgren e Cecilia Vanger e o maior ênfase dado a Erika Berger, muito bem interpretada por Robin Wright.
Chego agora a um dos pontos que mais discórdia tem causado: Rooney Mara. Para mim, a actriz americana consegue ser uma personificação muito fiel, forte e merecedora das nomeações que tem obtido. Devido à diferente visão de Fincher, Rooney Mara é uma Lisbeth Salander que não tem apenas o seu lado anti-social, aparentemente frágil e perturbada, nem o seu lado de rebelde e hacker, mas também um lado mais inseguro, preocupado e verdadeiramente frágil, como Larsson criou - de acordo com a minha leitura e interpretação da personagem, em especial nesta história. Penso também que todo o esforço e dedicação que a actriz colocou na personagem a melhoraram, tornando-a sem dúvida numa personagem inesquecível, rivalizando com a sua colega Noomi Rapace que tão bem interpretou na versão original.
Devido ao facto de ter querido aproximar mais do livro a sua versão da história, Fincher tem no entanto alguns pontos menos bons, passando um pouco rapidamente de mais talvez, por momentos importantes - como por exemplo, a vingança de Lisbeth Salander perante Nils Bjurman ou mesmo algumas cenas entre Henrik e Blomkvist, e a dedução de toda a trama que é feita por Lisbeth e Blomkvist.
Assim, na minha opinião, penso que esta versão consegue no entanto ser uma adaptação a que vale a pena assistir, quer se tenha ou não assistido o filme original ou lido as histórias de Stieg Larsson. Quem estiver "em branco" irá com certeza ter momentos bastante agradáveis na presença de um excelente filme, com excelentes interpretaçoes, realização e banda sonora. Quem apenas tiver visto a versão sueca, irá ter algumas surpresas e algumas decepções, sendo que no entanto creio que irá desfrutar da história. Quem tiver lido o livro apenas irá com certeza achar que Fincher fez um excelente trabalho na difícil adaptação desta grande obra.
Quem, como eu, tiver já lido toda a trilogia e visto toda a trilogia sueca, irá sentir que Fincher conseguiu cumprir muito bem o que lhe era pedido, sem "americanizar" de mais a história, com um bom trabalho de casting - ainda que uma falha ou outra - e sem perder a essência da narrativa, sendo que como grande fã do realizador, acho que foi um dos seus melhores trabalhos.