Neon Bible (2007)
Quando a banda de Montreal lançou Funeral em 2004, os Arcade Fire receberam uma aclamação comercial e critica tão grande, que a maioria das bandas passa a maior parte da sua existência a tentar alcançar. Num ano a banda era cabeça de cartaz de vários festivais e partilhava o palco com nomes tais como os U2, David Bowie e David Byrne, eram sempre acompanhados por um cada vez maior grupo de devotados fãs, alcançando uma apreciação artística que se pode tornar num falso sentido de posse. No seu sucessor, Neon Bible, tem-se a noção de que se está a construir um muro em torno do grupo. Se Funeral foi o beijo de despedida no caixão da juventude, Neon Bible é o travo amargo após um longo dia de trabalho.
A faixa de abertura Black Mirror, com a sua sinistra Suffragette City – inspirada pelo ritmo e pelo refrão "Mirror, Mirror on the wall/ Show me where the bombs will fall," marcam o tom usual do mundo que permite que a maioria das “páginas” de Neon Bible sejam consideradas actuais. Como era esperado, estes sentimentos são amplificados por todo o poder majestoso que dividiu os ouvintes desde a ascensão do grupo como Indie Rock, e apesar duma tendência para baladas de tom medieval, visível nos coros e sons eclesiásticos, e algum cinismo após a fama, eles são tudo menos cansativos ou aborrecidos. São as orquestrações triunfantes presentes em No Cars Go e Keep the Car Running, que mais apelam aos fãs de Funeral.
Black Wave/Bad Vibrations e The Well and the Lighthouse continuam a exploração da banda por sons estruturados e progressivos, e My Body is a Cage lembra o desespero presente no Rock & Roll clássico.
Neon Bible necessita de algum tempo para ser digerido, conseguindo ser tão decadente quanto saboroso mas é impossível negar a visão singular dos Arcade Fire, mesmo quando esta aparenta desvanecer!
Alexandra Silva & Filipe Vilhena